segunda-feira, 14 de maio de 2012

RAZÃO NO TEMPO CERTO, António José Seguro

 Artigo de Opinião de António José Seguro

Continua a ser voz corrente de que não há traços distintivosentre esquerda e direita. Morreram as diferenças ideológicas. Nadamais falso. A aposta do PS na defesa de uma agenda para o crescimentoe o emprego é um exemplo disso. Quando assumi o mandato de secretário-geral do PS tivemos umaperceção clara de que a orientação dominante em Portugal e naEuropa fazia parte de uma corrente neoliberal, uma apostaconservadora que valorizava o primado das finanças em desfavor daspessoas. Numa linguagem mais acessível, transformar as pessoas em números. Anular o Estado social, a partilha solidária de recursos, osmecanismos fomentadores de maior justiça social e de promoção daigualdade de oportunidades. O primado era o dos mercados financeiros.O objetivo era o fim de muitos valores e políticas associadas àsocial-democracia, ao socialismo democrático. Este era o pensamento dominante, em julho passado. Não foi fácilintroduzir uma outra perspetiva. Alguns apóstolos do pensamentoúnico tentaram mesmo ridicularizar a ideia de que havia outrocaminho e vaticinaram para o PS o papel de notário das políticas doatual Governo. Enganaram-se! Apesar destas dificuldades, o PS persistiu na sua convicção eafirmou um caminho alternativo. Com muita clareza afirmei que aprioridade deveria ser dada ao emprego e ao crescimento económico.Isto é, a correção do nosso desequilíbrio orçamental deveria edeve ser feito através da aposta no crescimento, pois só assimgeraremos riqueza para pagar as dívidas, preservar e criar empregose reduzir, por via do aumento da receita, o défice. Nunca escondique se hoje fosse primeiro-ministro também teria de adotar medidasde austeridade, mas nunca na dose e no ritmo que tem vindo a seraplicadas pelo atual Governo. Defendi e defendo uma austeridadeinteligente que saiba conciliar redução de despesa inútil comapoios ao crescimento e ao emprego. Defendi, em finais de outubro,mais um ano, no mínimo, para a consolidação das nossas contaspúblicas. Mais tempo permite aliviar sacrifícios das famílias e dasempresas. Foi esta a nossa batalha em mais de meio ano. Em Portugal e em várias capitais europeias, batalhei para que estapreocupação encontrasse eco nas instâncias europeias e na minhafamília política. Foi esse objetivo que me fez reunir por duas vezes (outubro e nasemana passada) com François Hollande. Vou persistir com essecombate. Sempre tive a noção de que a resposta à crise exigia eexige soluções nacionais e europeias. E numa Europa dominada pelos conservadores, é indispensável umaproposta política alternativa que só os socialistas europeus estãoem condições de protagonizar. Temos uma ideia federal para a Europa,com um pensamento claro e uma estratégia bem definida. Necessitamosde parceiros, em particular nos países com maior peso políticoeuropeu. A influência de Portugal é reduzida, mas essaconstatação nunca me fez baixar os braços. Esta foi a nossabatalha. E continua a ser. Mas já não estamos sós. Hoje, esta preocupação é partilhadapor muitos, europeus e portugueses. Tenho a certeza de que faz partede um largo consenso nacional. É uma bandeira que ultrapassou o PS eé assumida por todos os que têm preocupações sociais, por todos osque não se conformam com os valores recorde de desemprego emPortugal. Apesar das nossas advertências, apesar das intervençõesde outras organizações de cariz social, religioso esocioprofissionais, o Governo e a maioria que o apoia chumbaraminiciativas do PS e ignoraram todas as vozes que advogavam maisatenção ao crescimento e ao emprego. Com desprezo e arrogância.Também com convicção porque o que está a ser feito corresponde aoprograma político do atual Governo. Eles próprios o afirmaram, quenão era necessário o memorando de entendimento para desenvolveremesta política. Para o atual Governo o memorando da troika é a suapolítica. A alternativa política que o PS está a desenvolverassenta nesta diferenciação. Apostamos num outro caminho onde aspessoas estão no centro das nossas preocupações. Uma política quepermite manter a relação de confiança entre o cidadão e o Estado. Uma política que quer preservar a Segurança Social e o acesso àeducação e à saúde. Onde nenhuma pessoa fique para trás. Umapolítica que visa conjugar as dificuldades do presente com asalvaguarda de um património civilizacional inquestionável. Este caminho está apenas no princípio. Sei que temos muito paraandar. Mas também sei que é um caminho que recolhe cada vez maisconfiança. Só a mudança devolverá a confiança e a esperança aosportugueses. A mudança da austeridade excessiva para a agenda doemprego e do crescimento económico. É esta agenda que melhor defende o interesse de Portugal.
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